A família de um menino de 8 anos denuncia negligência médica
e cobra explicações após a morte da criança, no pronto atendimento, em Santa
Cecília/SC. Ele morreu dois dias após sofrer uma queda e bater a cabeça em uma
quadra de esportes em uma escola, na última quinta-feira, 23. A mãe alega que
ele não recebeu o atendimento adequado.

A Polícia Civil investiga o caso e aguarda laudos da Polícia
Científica. Já a prefeitura, diz que confia no trabalho dos servidores
envolvidos nos atendimentos da criança e está colaborando com as autoridades
judiciárias para a elucidação dos fatos ocorridos.
“Disseram que não era nada”, conta mãe sobre a queda na
escola
A mãe, que preferiu não se identificar, disse que a criança
teve uma queda na escola durante uma atividade, na última terça-feira, 21.
“Ele me dizia o tempo todo, até no hospital, até o último
suspiro: ‘mãe, tia, vó, eu caí na quadra e bati com a cara no chão’. Ele
repetiu isso para todo mundo”, contou emocionada.
Ela afirma que o menino, que frequentava o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), voltou para casa após a queda na
escola, aparentemente bem, mas acordou de madrugada com fortes dores.
“Ele me acordou gritando: ‘mãe, tá doendo meu olho’. Passei
pomada, mas ele não melhorava. De manhã levei ele no postinho do bairro, mas a
médica só olhou o ouvido e a garganta. Ele tava gripado, disseram que não era
nada.”
Rosto inchado, olhos roxos e tomografia sem diagnóstico
No mesmo dia, a mãe procurou novamente atendimento. “À
tarde, o rosto dele já tava inchando. Fomos à pediatra, fizeram raio-x e
disseram que não tinha nada, deram só soro. Mas ele falava com a gente, gravou
até vídeo para prima. Achamos que estava melhorando”, contou.
No entanto, o quadro piorou. “Na madrugada de quinta, o olho
dele estava mais inchado, os dois lados. De manhã tentei levar no posto do
bairro, mas só atendia pediatria à tarde. Quando conseguimos atendimento, ele
já tava com os dois olhos roxos, o rosto inchado, e se torcendo de dor na
barriga.”
O menino foi submetido a uma tomografia, mas, segundo a mãe,
o exame não apontou fraturas. “Mesmo assim, ele tava só piorando. A médica
disse que ia internar por causa da ‘inchadura’, mas demorou para sair vaga. A
transferência para Caçador só foi autorizada depois de muito tempo.”
Transferência atrasada e desespero na maca
A mãe relatou que, enquanto aguardavam a transferência, o
menino já apresentava sinais de agravamento severo.
“Ele gritava que queria ir embora, que não aguentava mais.
Já tava todo roxo. Minha sogra que foi com ele na ambulância disse que ele
desmaiou no colo dela. Quando chegaram na emergência, ele já tava desacordado.”
A equipe médica tentou reanimá-lo, mas sem sucesso. “Só
escutávamos o ‘bip’ lá fora. Minha cunhada ficou até o fim e me deu a notícia.
O que mais doeu foi saber que, enquanto estavam no telefone falando de
papelada, meu filho morreu ali no pronto-atendimento, roxo, sem atendimento
urgente.”
Polícia investiga e laudo é aguardado
O delegado de Polícia Civil Thiago Passos, responsável pelo
caso, afirmou que um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da
morte.
“Já ouvimos familiares e os profissionais que estavam no
momento da queda. Aguardamos o laudo necroscópico da Polícia Científica, que
ainda não foi disponibilizado.”
Segundo ele, a criança caiu na terça-feira, foi atendida
duas vezes na quarta e morreu na quinta. As investigações seguem para
esclarecer se houve omissão de socorro ou falha no protocolo médico.
O que diz a pronto-atendimento?
A prefeitura, responsável pelo pronto-atendimento, informou
que aguarda os documentos técnicos e as conclusões da Polícia Científica para
analisar eventuais medidas administrativas internas e emitir manifestação
pública mais detalhada.
“A Administração expressa sua confiança no trabalho dos
servidores envolvidos nos atendimentos realizados em favor da criança e está
colaborando com as autoridades judiciárias para a elucidação dos fatos
ocorridos”, diz o comunicado.
Além disso, os servidores foram orientados a prestar, com
celeridade, todas as informações solicitadas pelas autoridades competentes.
Em nota, a prefeitura de Santa Cecília lamentou
profundamente o falecimento do menino, que estudava na rede municipal de
ensino. A administração declarou “imenso pesar pela perda precoce” e prestou
solidariedade à família.
Conselho Tutelar foi acionado após dois dias
O Conselho Tutelar de Santa Cecília informou que foi
acionado somente dois dias após a queda. Depois de atendimento à família, a
criança foi encaminhada para exames de imagem, mas não resistiu.
A mãe ainda cobra acesso às imagens de segurança da escola.
“Fui até lá, pedi a filmagem do dia da queda. Disseram que tinha que esperar.
Mas meu marido vai registrar boletim para pedir as imagens, porque tem gente
dizendo que ele nem caiu na quadra. Mas ele repetiu até o fim: ‘eu caí na
quadra, eu bati a cara no chão’.”
Fonte: ND+