A jornalista Glória Maria, ícone da TV brasileira,
morreu no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 2) “É com muita tristeza
que anunciamos a morte de nossa colega, a jornalista Glória Maria”, informou a
TV Globo, em nota.

“Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova
fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente,
deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã, no
Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, afirma o comunicado.
Pioneira
Glória foi pioneira inúmeras vezes. Ela foi a primeira a
entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, mostrou mais de 100 países em
suas reportagens e protagonizou momentos históricos.
“Eu sou uma pessoa movida pela curiosidade e pelo susto. Se
eu parar pra pensar racionalmente, não faço nada. Tenho que perder a
racionalidade pra ir, deixar a curiosidade e o medo me levarem, que aí eu faço
qualquer coisa.”
Vida e carreira
Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro. Filha
do alfaiate Cosme Braga da Silva e da dona de casa Edna Alves Matta, estudou em
colégios públicos e sempre se destacou. “Aprendi inglês, francês, latim e
vencia todos os concursos de redação da escola”, lembrou, ao Memória Globo.
Glória também chegou a conciliar os estudos na faculdade de
Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) com o emprego de
telefonista da Embratel.
Em 1970, foi levada por uma amiga para ser radioescuta da
Globo do Rio. Naquele tempo sem internet, ela descobria o que acontecia na
cidade ouvindo as frequências de rádio da polícia e fazendo rondas ao telefone,
ligando para batalhões e delegacias.
Na Globo, tornou-se repórter numa época em que os
jornalistas ainda não apareciam no vídeo. A estreia como repórter foi em 1971,
na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro.
“Quem me ensinou tudo, a segurar o microfone, a falar, foi o Orlando Moreira, o
primeiro repórter cinematográfico com quem trabalhei”.
Glória Maria trabalhou no Jornal Hoje, no RJTV e no Bom Dia
Rio. Coube a ela a primeira reportagem do matinal local, há 40 anos, sobre a
febre das corridas de rua.
No Jornal Nacional, foi a primeira repórter a aparecer ao
vivo. Cobriu a posse de Jimmy Carter em Washington e, no Brasil, durante o
período militar, entrevistou chefes de estado, como o ex-presidente João
Baptista Figueiredo.
“Foi quando ele [João Figueiredo] fez aquele discurso ‘eu
prendo e arrebento’ – para defender a abertura [1979]. Na hora, o filme [para
fazer a gravação da entrevista] acabou e não tínhamos conseguido gravar. Aí eu
pedi: ‘Presidente, é a TV Globo, o Jornal Nacional, será que o senhor poderia
repetir?'. 'Problema seu, eu não vou repetir’, disse Figueiredo. O ex-presidente
dizia para a segurança: ‘Não deixa aquela neguinha chegar perto de mim’”,
relembrou.
Sucesso no Fantástico
A partir de 1986, a jornalista integrou a equipe do
Fantástico, do qual foi apresentadora de 1998 a 2007. Ficou conhecida pelas
matérias especiais e viagens a lugares exóticos, e por entrevistar celebridades
como Michael Jackson, Harrison Ford, Nicole Kidman, Leonardo Di Caprio e
Madonna.
Com a cantora, Glória teve um encontro que definiu como
especial. “Eu saí daqui, e diziam que a Madonna era difícil. Foi
antipaticíssima com a Marília Gabriela e debochou do seu inglês”. Ao chegar,
Glória Maria foi informada de que tinha quatro minutos para entrevistar
Madonna.
A repórter contou que entrou em pânico. Mas, na hora, falou:
“Olha, Madonna, eu tenho quatro minutos, vou errar no inglês, estou assustada,
acho que já perdi os quatro minutos.” Para sua surpresa, a estrela virou-se
para a equipe técnica e disse: “Dê a ela o tempo que ela precisar.”
Glória Maria entrevistou os músicos mais famosos: Madonna,
Michael Jackson, Elton John...
Viagens a mais de 100 países
Para o Fantástico, a jornalista viajou por mais de 100
países, passando pela Europa, África e parte do Oriente, quando mostrou um
mundo novo ao telespectador.
Foi a repórter que entrou no ar ao vivo, na primeira matéria
com imagem colorida do Jornal Nacional, em 1977, mostrando o movimento de saída
de carros do Rio de Janeiro, em um fim de semana. Naquele dia, foram usados
equipamentos portáteis de geração de imagens.
Na primeira cena, a lâmpada queimou e a repórter passou seu
primeiro sufoco no ar.
“Eu estava dura, rígida, porque não podia errar. Era a
primeira entrada ao vivo. Faltavam cinco, dez minutos, era o técnico que ficava
com o fone para me dar o ‘vai’. Quando a lâmpada queimou, faltava um minuto
para a entrada ao vivo. O jeito foi acender a luz da Veraneio (carro usado pela
emissora nas reportagens).” O repórter cinematográfico e a repórter tiveram que
ficar de joelhos, com o farol no rosto de Glória Maria, e a matéria entrou no
ar.
A jornalista cobriu a guerra das Malvinas (1982), a invasão
da embaixada brasileira do Peru por um grupo terrorista (1996), os Jogos
Olímpicos de Atlanta (1996) e a Copa do Mundo na França (1998).
Primeira transmissão em HD
Em 2007, ao lado do repórter cinematográfico Lúcio
Rodrigues, a jornalista realizou a primeira transmissão em HD da televisão
brasileira. Foi uma reportagem no Fantástico sobre a festa do pequi, fruta de
cor amarela adorada pelos índios Kamaiurás, no Alto Xingu.
Com informações: g1