Gabriela Dantas e Juliana Sá — Rio de Janeiro - Globoesporte.com
Aos poucos, a exceção se transforma em regra. É a partir desse desdobramento que o futebol feminino conquista o Brasil: do micro para o macro, do flerte à conquista. E é assim também que um dos finalistas do Campeonato Brasileiro Feminino A-2 constrói sua trajetória. Nascido em Caçador, cidade do interior de Santa Catarina com cerca de 78 mil habitantes, o Napoli enfrenta o Botafogo no próximo domingo, às 16h, em sua primeira final nacional. E para essa decisão, chega com a força de uma equipe que está traçando uma verdadeira história de protagonismo.
Fundado em 2017, a equipe feminina do Napoli nasceu para facilitar a montagem de um torneio estadual. Naquele ano, a federação catarinense estava com dificuldades de reunir quatro clubes para montar um campeonato. Apenas Criciúma, Chapecoense e Kindermann estavam aptos para competir e, por isso, o presidente Salézio Kindermann resolveu apostar na criação de uma nova equipe. O Napoli surgiu para que fosse possível organizar uma competição, se desenvolveu como um braço do Kindermann para, só depois, começar a andar com as próprias pernas.
Meninas do Napoli comemoram classificação para a final da Série A-2 — Foto: Thais Lima
O problema - ou a solução - foi que o Napoli já nasceu com a força de um campeão, pronto para criar sua própria história e se desfazer das amarras de ser apenas um agregado. No ano de sua criação, foi vice-campeão do campeonato catarinense, atrás apenas do próprio Kindermann, garantindo a vaga para o Campeonato Brasileiro A-2 de 2018. O projeto deu tão certo, que os dirigentes do Napoli continuaram com a ideia, afim de reforçar ainda mais o Kindermann, que havia retomado suas atividades em 2017 e tinha como propósito se projetar para o cenário nacional. De acordo com Jonas, diretor de futebol do clube, o Napoli serviria como uma espécie de "laboratório".
- Fomos tão bem em 2018 que começamos a trabalhar o Napoli como uma espécie de laboratório para o Kindermann. Aquelas atletas que precisavam de mais experiência para, depois, migrar para o Kindermann, integrariam o Napoli para se desenvolverem - admitiu Jonas.
Comissão técnica do Napoli é predominada por mulheres — Foto: Andrielli Zambonin
Mas a independência orgânica do Napoli não impôs limites ao clube de continuar crescendo. Depois de cair na fase de grupos da série A-2 em 2018, foi novamente vice-campeão do estadual em 2019, resgatando a oportunidade de participar da segunda divisão brasileira no ano seguinte. Mas, desta vez, o sucesso da segunda participação em uma competição nacional forçou os dirigentes a encerrarem os planos que, inicialmente, tinham para o clube. O acesso à primeira divisão e a possibilidade da conquista de um título mudaram os rumos da equipe catarinense.
- Em 2020, tudo mudou. Com a ascensão do Napoli à primeira divisão, agora cada equipe vai precisar andar com suas próprias pernas: sempre vai haver a parceria com o Kindermann, até porque a gestão é em conjunto, mas o que vai diferenciar, a partir de agora, serão as atletas e a comissão em separado - relatou Jonas ao ge.
Campanha até a final do Brasileirão A-2
Napoli e Botafogo farão a quarta final diferente em quatro edições do Campeonato Brasileiro da Série A-2. Essa, por sinal, é a 1ª vez que catarinenses e cariocas chegam à final. Até aqui, tem Pinheirense, do Pará, Minas Brasília, do Distrito Federal, e São Paulo, de São Paulo, como os campeões do torneio da categoria.
Foto: Andrielli Zambonin
Invicto, o Napoli chegou à final com sete vitórias (quatro em casa e três fora) e quatro empates (dois como mandante e dois como visitante), além de 27 gols a favor e oito sofridos. Aproveitamento de 75,8%. Se classificou em primeiro lugar no Grupo F, com 15 pontos, bateu o Real Ariquemes nas oitavas de final, o Juventus nas quartas, passou pelo Real Brasília nos pênaltis na semifinal e, agora, encontra o Botafogo no domingo (24), no Estádio Carlos Neves, em Caçador, às 16h, no primeiro jogo da disputa pelo título. No mesmo horário, o confronto da volta está marcado para o domingo seguinte (31), no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro.
Agora, a cidade de Caçador, que respira futebol feminino desde que o Avaí/Kindermann se consolidou no cenário nacional, vai ter mais uma opção para se orgulhar, acolher e torcer junto.