A história da indústria catarinense é marcada por desafios
que, à primeira vista, pareciam intransponíveis. Quando não havia estradas para
escoar a produção da Sadia, Omar Fontana criou uma companhia aérea para
garantir o acesso aos mercados consumidores. Da mesma forma, quando a
exploração da araucária se tornou inviável, o setor de base florestal se
reinventou, construindo uma cadeia sustentável a partir de florestas plantadas,
hoje referência mundial em competitividade e sustentabilidade. Esses exemplos inspiram
a convicção de que, também agora, diante do tarifaço dos Estados Unidos,
encontraremos caminhos.

As relações comerciais poderiam estar em outro patamar se o
governo federal tivesse adotado uma postura menos ideológica e mais pragmática.
Falas provocativas e desnecessárias sobre substituir o dólar como moeda de
trocas internacionais ou sobre alianças com outros blocos, em vez de aproximar,
afastaram o Brasil de uma negociação franca e necessária com Washington. Assim,
a indústria brasileira paga o preço de uma diplomacia que parece mirar mais a
disputa eleitoral de 2026 do que a defesa dos reais interesses da nação.
É justo reconhecer a importância das medidas anunciadas pelo
governo federal para apoiar os exportadores afetados. Mas é igualmente
verdadeiro que esse pacote talvez nem fosse necessário se o diálogo direto com
o presidente Donald Trump tivesse sido conduzido com a seriedade e prioridade
que exigem. O governo de Santa Catarina, por outro lado, mostrou senso de
urgência ao articular, com ativa participação da Fiesc, um plano consistente de
suporte às empresas e trabalhadores impactados. E, como entidade representativa
do setor, a própria Fiesc lançou o desTarifaço, um conjunto de medidas que
inclui consultorias, apoio à qualificação e requalificação de trabalhadores e
serviços gratuitos oferecidos por Sesi, Senai e IEL para mitigar os efeitos
imediatos da crise.
A força da indústria catarinense não depende apenas de
medidas governamentais. Não obstante os graves impactos, que já afetam o
emprego e a saúde financeira de muitas empresas, vemos exportadores negociando
com clientes nos Estados Unidos, adaptando contratos e buscando novos mercados,
numa prova de resiliência e capacidade de superação. Assim como no passado,
vamos vencer mais este desafio, porque o industrial catarinense sabe que seu
papel é gerar oportunidades e sustentar o desenvolvimento.
Gilberto Seleme, presidente da Fiesc