O anúncio do presidente norte americano Donald?Trump de
elevar para 50% as tarifas sobre todos os produtos brasileiros que entrarem nos
Estados Unidos a partir de?1º?de?agosto acendeu o alerta máximo no setor
produtivo de Caçador, fortemente dependente do mercado norte americano. A
medida multiplica por cinco o imposto que já era aplicado desde abril e atinge
em cheio a cadeia florestal, carro chefe das exportações locais.

Foi uma surpresa absoluta. Não havia qualquer sinalização de
que chegaríamos a esse patamar”, afirma Leonir?Tesser, empresário do setor
madeireiro e vice-presidente regional Centro Norte da Fiesc. Segundo ele,
aproximadamente 80% dos embarques de madeira moldada, móveis e componentes
produzidos em Caçador têm como destino direto o mercado norte americano. “Se
essas tarifas permanecerem, o impacto no nosso fluxo de caixa será imediato e
profundo”, acrescenta.
A Associação Empresarial de Caçador (Acic) partilha da
apreensão. Para o presidente José?Carlos?Tombini, o primeiro sentimento é
“tristeza” diante de um cenário que considera inviável para a continuidade das
remessas. “Não há margem para conceder 50% de desconto ao cliente nem para
repassar isso ao consumidor final nos Estados Unidos. Com essa alíquota, vender
para lá deixa de fazer sentido econômico”, resume.
Risco de freada no investimento
Nos últimos cinco anos, a indústria caçadorense investiu
pesadamente em automação e em linhas de produção desenhadas para atender
exigências técnicas e de design dos Estados Unidos. “Migrar para outro mercado
não se faz do dia para a noite. Todo o parque fabril foi dimensionado pensando
no padrão americano”, explica Tesser. A possibilidade de redirecionar vendas
para a Europa ou Ásia é citada como alternativa apenas de longo prazo, pois
exigiria ajustes produtivos e logísticos.
Busca por solução diplomática
Tesser e Tombini informaram já ter acionado a Federação das
Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e a Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB) para
reforçar a pressão por uma solução negociada antes de?1º?de?agosto. “Se as
razões da tarifa forem econômicas, que se encontre contrapartida na mesma
dimensão econômica; se forem políticas, que a diplomacia atue”, diz Tesser.
Tombini faz coro: “Serenidade agora é fundamental.
Precisamos dar espaço para que Brasília converse com Washington e retome, ao
menos, a tarifa anterior de 10%. Todos perdem com um bloqueio comercial dessa
escala”.
Efeito dominó no mercado interno
Além da queda de receita nas exportações, empresários já
projetam efeitos colaterais sobre o câmbio, combustível e preços de insumos. “A
indústria vem contratando e expandindo desde 2020; uma barreira desse tamanho
pode inverter a curva e comprometer novos empregos”, alerta Tombini.
Enquanto aguardam as tratativas diplomáticas, empresas
avaliam estratégias emergenciais — da renegociação de contratos à eventual
suspensão de turnos de trabalho — para absorver o choque caso a tarifa de 50%
se confirme no mês que vem.