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Crônicas

Os Conflitos da Escola


Desde que a história comprova a existência da escola que existem também os conflitos. No Brasil, com a chegada dos portugueses, chegam também os Jesuítas e nos trazem um modelo de educação que, de certa forma, permanece até hoje. Enfrentaram conflitos com os índios que não queriam ser escravizados, empurraram “goela abaixo” as doutrinas e a educação cristã, numa tentativa de fazer os nativos desta terra sepultarem sua cultura e suas origens. Certamente, enfrentaram muitos obstáculos ao tentarem trazer o conhecimento pronto, ignorando toda a história de vida dos índios, posteriormente dos africanos traficados e igualmente escravizados.

Com o passar do tempo, os conflitos de gerações e de interesses permaneceram na escola, de forma mais diplomática, porém, pelo que se percebe, permanece com a mesma intensidade. Infelizmente, ao que parece, o tempo passou e muitos conflitos históricos ainda não foram resolvidos. Os alunos, em geral ainda preferem estar fora da sala de aula, apesar de se agradarem com o ambiente escolar, ou seja, para eles, a escola é agradável, porém a aula em sala, enfileirados, quietos prestando atenção a um professor falando sobre assuntos não tão interessantes, torna-se muito desagradável e eles, mesmo assim aprendem, apesar da escola e não por causa dela…

Urge uma transformação no sistema de ensino público, porém as mudanças, apesar de urgentes, tendem a ser lentas, pois a maioria dos envolvidos entendem a escola como um lugar onde o professor ensina e o aluno aprende. Não há uma interação, uma troca de experiências considerável para que se justifique a permanência de alunos e professores no sistema atual…

Para o professor, ainda é mais conveniente a aula tradicional com quadro e caderno cheios e cabeça vazia. Para o aluno, é mais cômodo tentar adivinhar o que o professor quer que ele faça e esperar a média no final do bimestre. Desta forma, a gestão dedica tempo resolvendo pequenos conflitos que poderiam ser resolvidos em sala de forma a reforçar a democracia e a cidadania e deixa a desejar na parte que lhe cabe: fazer acontecer a escola que está no plano de gestão e em todas as teorias sobre educação…

Enquanto houver ocorrências suficientes para se preencher um livro-ata, a educação continuará esperando os avanços e correndo atrás das evoluções mundiais, sempre em último plano, pois o mundo se moderniza e a escola vai atrás, enquanto deveria ser ao contrário.

Percebe-se, um esforço por parte da maioria dos gestores para mediar de forma imparcial os conflitos, no entanto, o pouco entendimento de leis dos educadores em questão, sempre esbarra na busca do próprio conforto, com frases do tipo: “Este aluno me incomoda, não quero mais na minha aula”, ou “Só entra na sala novamente com a presença dos pais”… Neste ponto, nossos alunos estão mais informados sobre leis e seus pais também conhecem seus direitos, sabem que a escola não pode deixar de acolher qualquer que seja o aluno sob pena de responder com o peso do Estatuto da Criança e do Adolescente, que garante o direito à permanência na escola. Infelizmente, não existe fiscalização sobre os encaminhamentos feitos aos ditos “alunos-problema”,portanto, cabe à escola a função de acolher e recuperar a criança, ou adolescente que vem cheio de bagagem do mundo lá fora e, por muitas vezes ,é muito mais atrativo que as quatro horas de aula diárias…

A família desempenha um papel importantíssimo neste processo. A maioria dos conflitos mediados pelos gestores, seria inexistente se houvesse um maior interesse dos responsáveis no crescimento pessoal e acadêmico dos alunos em questão. Não se pode alimentar a utopia de que, um dia, todos os conflitos de gerações e interesses da escola sejam resolvidos definitivamente, mas é possível amenizar e diminuir as estatísticas se houver uma ação mútua entre escola, família e comunidade.

Parra isso, é preciso que cada agente tenha perfeita noção de seu papel no processo: O aluno é um ser humano que carrega uma história que deve ser considerada, o professor é o profissional habilitado para lhe orientar no caminho do conhecimento, a família deve acompanhar e orientar na educação e relacionamento coletivo. E a gestão deve ter respaldo legal e habilidade suficiente para lidar com tudo isso. Os desafios dos conflitos na escola sempre existirão, cabe aos envolvidos praticarem ações que definirão a intensidade do impacto destes conflitos para toda a comunidade escolar, de forma que se cumpra o verdadeiro papel da escola de orientar o cidadão para os possíveis conflitos da vida. Desta forma, arrisca-se dizer que: Os conflitos da escola são um treinamento para os conflitos da vida...

Ivonete Aparecida Torrezan
Márcio Roberto Goes
www.marciogoes.com.br
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Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br