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Crônicas

Abraço da paz


Numa manhã de sábado, me encontro com uma amiga e, conversa vai, conversa vem, entramos no assunto de Igreja. A meu ver, seria conversa de compadres, um reforçando a teoria do outro, já que ambos somos Católicos Apostólicos Romanos... Mas como todas as criaturas divinas, somos humanos e limitados no nosso entendimento e cada cérebro interpreta de uma forma diferente. Isso não quer dizer que minha interpretação seja mais, ou menos verdadeira que a dela, apenas prova que na diversidade humana nos tornamos mais divinos quando amamos e respeitamos o próximo com suas crenças e costumes...

Contava minha amiga que o Papa assinou um documento proibindo a música e a circulação durante o abraço da paz nas celebrações litúrgicas sob pretexto de que a igreja não é encontro de recreio para tumultuar e depois fica difícil a volta a calma para a continuidade da celebração litúrgica... Este assunto é abordado pelo site Dominus Vobiscum, sob uma visão dogmática de uma ala da Igreja que fecha os olhos para a questão humana... De fato, pesquisei alguns sítios católicos e constatei que o documento existe e está disponível no site acima...

Admiro muitas atitudes do Papa Francisco, mas tenho que discordar do fato de se proibir a manifestação popular no único momento da missa em que se tem um contato entre os fiéis. Somos todos filhos de Deus e, como tal, devemos participar de seu reino. A missa é a ceia da ressurreição, a festa da partilha através do corpo e sangue de Cristo consagrados no Altar. Jesus nunca se negou a andar no meio do povo, jamais deixou de abraçar quem quer que fosse só porque não era hora de recreio. Dava atenção a todos, se deslocava a qualquer lugar que precisasse. Era atento a todas as manifestações. Conseguiu até ver Zaqueu que o procurava de cima da árvore e se convidou para jantar na casa dele...

Portanto, proibir de se cantar durante o abraço da paz, proibir o sacerdote de descer do altar para cumprimentar o povo e proibir o próprio povo de se deslocar na casa de Deus para desejar a paz aos irmãos... Tudo isso me parece um ato retrógrado e banal diante da grandeza que se faz no ato de reunir a comunidade para celebrar a vida... A Igreja se faz através de seu povo reunido e, por mais que seja uma celebração para Deus, como argumentou minha amiga, não consigo acreditar que, esse mesmo Deus, seja capaz de ignorar a manifestação popular...

Se o povo quer se abraçar desejando a paz, se quer dar maior destaque a esse momento, se o padre quer descer do tablado e se aproximar dos fiéis, se a equipe de liturgia deseja cantar algo durante o abraço da paz... Que mal há nisso?... Respeito o Papa e todos os líderes da Igreja, mas isso não me obriga a obedecer cegamente, pois acima de qualquer religião, padre, ou pastor, está o amor de Deus que enviou seu filho em sacrifício pelos nossos pecados. Em nome deste Jesus ressuscitado, criaram-se muitos ritos com o passar dos séculos e, às vezes, deixamos os ritos acima da própria fé. Repetimos, todos os domingos a festa da partilha e da ressurreição, mas nem sempre entendemos o que se passa no altar e, alguns líderes, em vez de explicarem ao povo como tudo acontece, preferem proibir sua manifestação...

O sacerdote que ousa desobedecer esta ordem, desce para cumprimentar o povo, quebra protocolos, difunde a religião do amor e da partilha, se preocupando o mínimo possível com o rito e dando mais importância ao povo que celebra junto, respeitando suas manifestações em detrimento às ordens lá de cima. Este sacerdote me representa e tem todo o meu respeito...

Vamos distribuir, sem medo, o abraço, desejando a todos a Paz de Jesus...

Márcio Roberto Goes
www.marciogoes.com.br


Márcio Roberto Goes

Professor de Língua Portuguesa, língua Espanhola e suas respectivas literaturas, efetivo na rede estadual de ensino de Santa Catarina, graduado em Letras pela Unc, antigo campus de Caçador e especialista em análise e produção textual pela FAVEST. Escritor, palestrante, diretor artístico e locutor da Web rádio Ativa Caçador. Membro da Academia Caçadorense de Letras e Artes.

marciogrm@yahoo.com.br