Delegado Akira Sato, diretor da DEIC (Diretoria Estadual de Investigações Criminais), afirmou a operação Proditor, que prendeu mais de 30 acusados de tráfico de drogas no final de semana em Caçador, foi um “golpe no crime”. A declaração foi dada ao Diário Catarinense, do grupo RBS, na tarde desta segunda-feira, em matéria assinada pelo repórter Diogo Vargas.
A publicação traz entrevista exclusiva com Akira, que dá detalhes das investigações e afirma que “ninguém tinha peito” (para prendê-los).
Confira a reportagem que também está disponível no www.clicrbs.com.br
Diário Catarinense _ Como a polícia começou essa investigação?
Akira Sato - A Adelita (Aparecida Regis) assumiu o controle do tráfico desde a morte do marido (Eloir Milani). Esse traficante era investigado há tempos e a partir daí surgiram as conexões. Quando foram cumprir as buscas entraram em confronto com ele (em 2011) e daí o negócio começou a abrir.
DC - Adelita era dona de bordeis em Caçador?
Akira - Ela era a dona de quase todos os bordeis.
DC - Qual era papel dos PMs que foram presos?
Akira - Eles faziam desde a escolta da droga com viaturas oficiais. Por exemplo, quando a Adelita e a Márcia (Helena da Silva) informavam eles que estaria chegando um veículo ou um transporte, eles por conta própria faziam essa escolta para que a droga chegasse no seu fim. Também que eles faziam a cobrança desses devedores, os menores traficantes, os usuários. E não a parte financeira, mas a repressão.
DC - Armados e fardados?
Akira - Até o comandante da região fala que eles eram policiais muito pró-ativos, faziam uma repressão muito grande ao tráfico de drogas, aos concorrentes. Inclusive também o inquérito indica que esse complexo de zona de meretrício é onde a Adelita fazia o seu tráfico de drogas também. Então, além da prostituição, rufianismo, lenocínio ela praticava traficância naquela região. E marcava operações, pedia para que os policiais fizessem operações para fechar as outras boates, as outras zonas.
DC - Vocês tratam como uma rede de crimes?
Akira - Não eram todos conexos. Havia ramificações. Uma parte fazia isso, de repente esse não conhecia esse, mas todos estavam ligados a Adelita e a Marcia. O agente penitenciário, por exemplo, ele não levava a droga ao presídio, ele usava a viatura para dar carona a indivíduos do qual a Ionara pedia, que é outra traficante também. Então ele se utilizava dos meios do Estado para fazer o transporte. Não se confirmou ainda o transporte de drogas, mas que ele fazia muita coisa para Ionara e isso que gerou a prisão dele, a associação ao tráfico, esse pano que ele dava para ela.
DC - Qual o papel da advogada?
Akira - A advogada era responsável por estar denunciando, cooptando os policiais militares à prática dessas ações a favor da Adelita e mandante de muitas outras coisas que estão sigilosas no inquérito.
DC - Havia pagamento de valores?
Akira - Isso está no inquérito, fala de dinheiro. O próprio delegado Régis (Daniel Régis, de Caçador) afirma que existiam situações econômicas, vantagens financeiras que os PMs possuíam.
DC - Quanto tempo a polícia suspeita que eles agiam em Caçador?
Akira - Então, o delegado Daniel Régis disse que isso já vem desde 2004. Ninguém tinha peito (para prendê-los) até pela falta de efetivo, dificuldade de trabalho, pela busca de materialidade e estrutura geral. Um auxílio muito importante foi do Ministério Público nesse caso. Foi um golpe no crime, nesse grupo que incomodava muito a região."
Polícia começa a interrogar suspeitos nesta terça-feira
Em matéria publicada no www.clicrbs.com.br, com assinatura dos repórteres Diogo Vargas e Daisy Trombetta, o delegado da DIC (Divisão de Investigação Criminal) de Caçador, Daniel Régis, disse que os depoimentos dos suspeitos começarão a ser tomados nesta terça-feira, 26. Primeiro ele vai ouvir os que estão presos em Caçador, e depois os detidos em Florianópolis.
Matéria na íntegra que está disponível no www.clicrbs.com.br.
"Polícia monta quebra-cabeça de grupo preso em Caçador, no Meio-Oeste catarinense
Detalhar o papel de cada um dos 31 presos na operação Proditor, entre quatro policiais militares, agente penitenciário e uma advogada, é o desafio da Polícia Civil após a complexa ação desencadeada no sábado em Caçador, no Meio-Oeste catarinense.
A polícia afirma que havia ramificações e uma série de crimes praticados por um grupo que supostamente agia na região havia oito anos.
O delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Caçador, Daniel Régis, responsável pela operação, começará nesta terça-feira a interrogar os suspeitos. Ele disse que ouvirá primeiro os que estão presos em Caçador, e depois os que foram transferidos para Florianópolis.
Régis não descarta novas prisões nos próximos dias, principalmente ligadas aos tráfico de drogas e associação para o tráfico. Ele acredita que a partir dos depoimentos chegará a novos nomes de outras pessoas envolvidas.
Os quatro policiais de Caçador estão presos no 4º Batalhão da PM, na Capital. O auditório da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) abriga a advogada de Caçador que também foi presa.
No parlatório da Deic está preso ainda o agente penitenciário, que era o chefe de segurança do presídio da cidade do Meio-Oeste. Eles não contam com visita e apenas advogados podem acessá-los.
As ramificações e os crimes suspeitos em Caçador:
A ADVOGADA
Marcia Helena da Silva
Cooptaria os PMs a agir para Adelita.
A VIÚVA
Adelita Aparecida Regis
Comandaria o tráfico desde a morte do marido, Eloir Carlos Milani, em 2011. Também atuaria no aliciamento de mulheres para a prostituição.
OS POLICIAIS MILITARES
Cabo Laudemir Domingues e soldados Leocir André Maurina, Leonardo Andriguetti e Fabio Masaroli.
São suspeitos de fazer escoltas de cargas de drogas que chegavam aos criminosos. Também protegiam o negócio ilícito, cobravam dívidas e prendiam bandos rivais para não levantar suspeita.
O AGENTE PENITENCIÁRIO
Mauro Vieira
Estaria envolvido com os criminosos em supostos serviços para o tráfico de drogas.
OUTROS PRESOS
Seriam responsáveis diretamente pelo tráfico de drogas. Também são investigados por homicídio e tentativa de latrocínio.
Fonte: Diretoria Estadual de Investigações Criminais e Divisão de Investigação Criminal de Caçador.
Contrapontos
O que disseram
MARCIA HELENA DA SILVA
Guilherme Felipe Miguel, advogado de Marcia Helena da Silva, disse que teve acesso ao inquérito nesta segunda-feira, mas que ainda não analisou as escutas telefônicas feitas pela polícia. Ele deve aguardar o encerramento do processo para se pronunciar sobre o caso e fazer uma análise mais detalhada dos elementos que, segundo ele, poderiam comprovar a inocência da cliente.
ADELITA APARECIDA REGIS
O DC não teve acesso a ela nem ao seu advogado.
O CABO LAUDEMIR DOMINGUES E OS SOLDADOS LEOCIR ANDRÉ MAURINA, LEONARDO ANDRIGUETTI E FABIO MASAROLI
O DC não teve acesso aos presos no 4º Batalhão da PM. A assessoria da PM não informou os nomes de seus advogados. A reportagem fez contato com a Associação dos Praças de SC (Aprasc), mas também não conseguiu descobrir os responsáveis pela defesa dos PMs.
O AGENTE PENITENCIÁRIO MAURO VIEIRA
O DC não teve acesso ao preso na carceragem da Deic. Plantonistas disseram que ele ainda não tem advogado constituído e que irá aguardar o seu depoimento ao Ministério Público para fazer a sua defesa."
Confira ainda: Polícia Civil divulga vídeo da Megaoperação em Caçador