Em menos de uma semana, Carlos Moisés da Silva (Republicanos)
deixa, definitivamente, o cargo de governador do Estado de Santa Catarina.
Manezinho, 55 anos, o bombeiro militar eleito em 2018 não surfou a mesma onda
em 2022 e não se reelegeu.
Terceiro lugar nas urnas e fora do 2º turno na disputa de
outubro passado, ele afirma que superou a derrota e seu futuro na política está
desenhado: vai presidir seu atual partido, o Republicanos, em Santa Catarina,
com foco na eleição municipal de 2024. No próximo pleito, ele não vai às urnas
como candidato, mas para ajudar o partido a ganhar força.
Em 2026, entretanto, Moisés pode voltar ao jogo, com duas
opções em mente: uma vaga na Câmara dos Deputados, em Brasília, ou
Sereno, elencando feitos e entregando o governo, Moisés
acredita que fez boa gestão e honrou a confiança dos catarinenses. Nesta
entrevista, faz um balanço do mandato e detalha suas pretensões futuras.
Confira a entrevista com concedida ao ND+:
ND: Qual é o saldo desse mandato, dessa experiência na
política?
Carlos Moisés: Temos a convicção de que entregamos um
Estado muito melhor do que aquele que recebemos no início de 2019, com grandes
realizações, muitos projetos e muitas sementes plantadas. Foi uma experiência,
na vida pessoal, que o povo catarinense me deu, e eu sou muito grato.
Tenho certeza que honrei o enfrentamento da pandemia com
o melhor resultado do Brasil aqui em Santa Catarina. Nós temos a menor
letalidade do país, compensada com cuidado da nossa economia, o menor
desemprego da história de um estado brasileiro também é do nosso governo,
então, é um saldo muito positivo.
Falando um pouco de 2022, tivemos diversas proposições do
executivo, tem alguma obra, algum projeto que o senhor considerou mais
importante nesse período?
C.M.: Não aumentar impostos, porque entendo que o
catarinense, e o brasileiro de modo geral, paga muito tributo. Nós conseguimos
fazer com que a nossa arrecadação melhorasse qualificando a cobrança, a
fiscalização, diminuindo o tamanho da máquina, ou seja, fazendo sobrar mais.
Acho que essa junção de fatores, da boa gestão, da
diminuição do quadro, do tamanho do Estado, do combate à corrupção, ou seja,
revisando o contrato, que a gente economiza mais de R$ 0,5 bi todos os anos
revisando contratos que eram muito lesivos aos cofres públicos e estavam aí há
décadas, sem ninguém fazer nada. A nossa gestão fez sobrar dinheiro para
colocar nas cidades.
Alguma obra ou projeto que não conseguiu finalizar?
C.M.: Tinha muita coisa ainda por fazer, a gente
reconhece que tem muitas sementes plantadas. Pela primeira vez na história de
Santa Catarina a gente faz projeto para ferrovia. Temos muitos movimentos que
fizemos de transparência, movimentos tributários de incentivos que vão
repercutir, assim como investimentos em educação. Os frutos serão colhidos
daqui a 5, 10, 15, 20 anos.
Uma das questões que chamou atenção na sua gestão foi o
investimento do caixa do Estado em rodovias federais. Melhorar a nossa
competitividade, passe por esse investimento em infraestrutura?
C.M.: Apesar de não ser obrigatoriedade do governo do
Estado, é um problema catarinense. É inegável que nós temos gargalos nas
rodovias federais. A BR-163 é um exemplo disso. A obra está andando muito bem,
pavimento rígido, ou seja, concreto lá no Oeste de Santa Catarina, com recursos
exclusivamente do Governo do Estado. Obra federal, tocada pelo DNIT, com o
dinheiro dos catarinenses.
A BR-470 a mesma coisa, a 285 lá no extremo sul de Santa
Catarina. São movimentos importantíssimos, que vão revolucionar a logística em
Santa Catarina. Todas essas obras só avançam com o dinheiro dos catarinenses.
Não estão no ritmo que gostaríamos, mas são obras tocadas pelo Governo Federal
e os catarinenses só pagam a fatura, mas é um movimento de responsabilidade.
Como encarou a derrota nas urnas, já superou esse episódio?
C.M.: Recebi com muita serenidade, desde a noite da
eleição, quando percebemos que não passaríamos para o segundo turno. No mesmo
momento tentei cumprimentar os vencedores, aqueles que estariam no páreo,
encerrado aquele primeiro choque inicial, mas depois tem entendimento de que a
política precisa existir na medida em que as pessoas votem racionalmente,
estudem seus candidatos. Não foi uma eleição típica, onde se votou em números.
Teve bastante fanatismo também nessa eleição.
Luan Vosnhak durante entrevista com o governador Carlos
Moisés – Foto: Leo Munhoz/ND
Costumo dizer que a nossa gestão é uma gestão do sonho de
qualquer estado: diminuir a máquina pública, combater corrupção, diminuir o tamanho
do Estado, ter projeto, ser um governo programático é fazer tudo aquilo que um
gestor privado numa empresa faz. Não passamos, mas temos que aceitar, porque
foi uma eleição atípica. Fizemos uma aposta no nosso governo na educação. O
maior investimento da educação da história de Santa Catarina está no nosso
governo e tenho convicção que a educação vai transformar a política, vai
mostrar para as pessoas como elas devem escolher os seus políticos.
Quais são as suas ambições políticas a partir de agora?
C.M.: Vou presidir o Republicanos em Santa
Catarina. Vamos fazer um time importante para continuar trabalhando com os
prefeitos, pensar nas eleições municipais. Eu não participo das eleições
municipais, mas participo no sentido de apoiar e de ajudar, mas o projeto seria
para 2026, numa eleição que a gente não sabe ainda o que vai fazer.
Teremos duas vagas para Senado, eleição de deputado federal,
estadual, enfim, é outro cenário, e a gente vai ter que acompanhar a política
nos próximos três anos para ver se teremos fanatismo ou política para depois
tomar uma decisão. Não tenho vontade de voltar para um cargo executivo, talvez
uma eleição proporcional ou majoritária para o Senado.
O senhor acredita que esse distanciamento do presidente
Bolsonaro refletiu na sua eleição?
C.M.: Aquela mesma onda que me trouxe ao poder em 2018
se repetiu agora, só que agora em duas ondas, Inegavelmente duas ondas, que
trouxe outro candidato ao Governo do Estado e outro ao Governo Federal. São
ondas. Fora isso, um trabalho com convicção. Acredito que a ciência tem que ser
ouvida, que temos que vacinar as pessoas, não só os cães. Não acredito que a
Terra é plana.
O governo tem que caminhar com a ciência, com o
desenvolvimento e a pesquisa. Não posso ferir as minhas convicções e acredito
que os governos têm que ser íntegros, trabalhar muito com as pessoas, não ter
ambição pessoal, por isso, recebo com serenidade também a derrota na eleição.
Qual sua expectativa para o governador eleito Jorginho
Mello?
C.M.: Eu penso que equilibramos as contas públicas,
então, ele recebe o governo com um Estado muito mais ajustado. Exemplo disso
foi esse mês de dezembro. Nós estamos pagando a última parcela para o Bank of
América de um financiamento que os governos anteriores fizeram para pagar os
empréstimos que não conseguiam mais pagar. Essa parcela deixa de ser paga a
partir do ano que vem. São R$ 630 milhões que o Governo terá para desenvolver
seus projetos e honrar os projetos que lançamos.
Temos várias obras em andamento. O Estado virou um canteiro
de obras. Os 295 municípios nunca viram tanto dinheiro e nunca um Governo foi
tão municipalista. Então, cabe ao governo, agora com o Estado equilibrado, dar
continuidade a esse trabalho. Nós subimos a régua.
O que ou quem mais beneficiou ou seu governo e o que ou quem
mais atrapalhou?
C.M.: O povo de Santa Catarina, por ter me escolhido,
foi fundamental. A política não atrapalhou. Nosso governo mesclou a política
com equipes técnicas, mas escolhemos, entre os políticos também, pessoas
técnicas. Mantivemos os quadros efetivos do governo mesmo nas pastas em que
conciliamos um agente público político e isso fez o nosso governo apresentar
grandes resultados.
Por outro lado, o que mais atrapalhou, mas ao mesmo tempo,
mediu a força do nosso governo e a capacidade de resposta foi a pandemia.
Ficamos dois anos com o Estado na incerteza da arrecadação, as perdas, as
mortes, a retração das atividades. Foi um governo incomparável, porque não
tivemos na história recente que passou pelo que passamos. Além disso, a
instabilidade política.
Faria algo diferente?
C.M.: Talvez. Com a experiência que temos, certamente a
gestão política poderia ter avançado de maneira mais assertiva. Mas tudo foi um
aprendizado e não dá para voltar o caminho. Costumo só olhar para frente,
aprender com os erros, construir. A história se faz caminhando e na caminhada o
aprendizado é constante.
Depois das férias até fevereiro, então, foco no
Republicanos?
C.M.: Exatamente. Alinhamos com o presidente nacional,
Marcos Pereira, e com o presidente estadual, Sergio Motta. Está bem
alinhado. Eu assumo a presidência do partido e o Motta vai focar mais no seu
mandato. Eu vou trabalhar com o partido, vou olhar para as eleições municipais
e participo tentando fomentar. Continuamos acreditando na política como o
caminho de fazer o bem, uma sociedade mais justa e melhor.