As jogadoras do Avaí Kindermann podem não entrar em campo na
final do Campeonato Catarinense Feminino, marcada para o próximo sábado, dia
25, no estádio Salésio Kindermann, em Caçador. O motivo é o atraso nos
salários, que já chega a quatro meses para parte da comissão técnica e três
meses para as atletas.

Em entrevista à Rádio Caçanjurê, a técnica do time, Carine
Bosetti, relatou que a situação se arrasta desde abril, com promessas não
cumpridas por parte da diretoria. Mesmo com as dificuldades, o grupo manteve o
foco e chegou à final com a melhor campanha da competição, após nove jogos
disputados.
“As meninas se reuniram e decidiram que, se até sexta-feira
não houver o pagamento de pelo menos dois salários, elas não entrarão em campo.
Se o pagamento for feito, jogam para tentar conquistar o nosso 16º título
estadual. Caso contrário, não haverá jogo”, explicou Carine.
A técnica afirmou que as atletas e a comissão técnica contam
com orientação jurídica e já comunicaram oficialmente a posição ao presidente
da associação, ao presidente do Avaí e ao diretor do clube.
Carine destacou ainda que a equipe seguiu treinando
intensamente, mesmo sem receber, enfrentando chuva e frio, com o compromisso de
honrar a camisa do Avaí Kindermann.
“Infelizmente chegamos a uma situação de desespero. A
história do Avaí Kindermann é muito bonita dentro do futebol feminino, mas esse
ano o clube passa por um problema financeiro sério, e quem está aqui não tem
culpa disso. Todas se dedicaram todos os dias”, afirmou.
Segundo a técnica, o cenário chegou a níveis preocupantes,
com atletas enfrentando condições desumanas, sem recursos nem para itens
básicos de higiene.
“Nem todas têm amparo da família nesses momentos. Existe
vontade de jogar, mas nas condições atuais não é possível. Os acordos precisam
ser cumpridos e cada um merece receber pelo seu trabalho”, completou.
Jogadoras comunicaram decisão de não jogar em postagem nas
redes sociais
A decisão das jogadoras foi comunicada publicamente por meio
de uma publicação conjunta nas redes sociais, em que o elenco anunciou que não
vai entrar em campo para o segundo jogo da final caso os pagamentos não sejam
regularizados.
No texto, as atletas relatam que foram contratadas em
fevereiro deste ano e que o salário de abril foi pago em três parcelas, a
última em junho. O salário de maio, em duas, sendo a última em 31 de julho.
Desde então, não houve mais pagamentos, somando quatro meses de trabalho sem
salário.
Elas também afirmam que a alimentação se tornou escassa e
não condizente com as necessidades de atletas de alto rendimento, e que faltam
até produtos básicos de higiene pessoal. Além disso, duas jogadoras sofreram
lesões graves (rompimento do ligamento cruzado anterior) em abril e agosto e
ainda não realizaram as cirurgias reparadoras.
“O Campeonato Catarinense começou em 19 de julho. Realizamos
todos os treinos e os nove jogos, chegamos à final disputando todo o campeonato
sem qualquer salário”, diz a nota das atletas.
Na primeira partida da final, disputada em Criciúma, o
placar foi 1 a 1. Caso o Avaí Kindermann não entre em campo no jogo de volta, o
Criciúma será declarado campeão por W.O.
Avaí Futebol Clube divulga uma nota oficial
Na noite de terça-feira, dia 21, o Avaí Futebol Clube
divulgou uma nota oficial sobre a situação. No comunicado, o clube afirma que a
gestão do futebol feminino é de responsabilidade da Associação Esportiva
Kindermann (AEK), que contrata jogadoras, comissão técnica e administra a folha
de pagamentos.
“Ao Avaí Futebol Clube compete, como parceiro, auxiliar com
um pagamento mensal conforme contrato que, para o ano de 2025, projetou-se
gastar R$ 800.000,00 com a equipe feminina. Entretanto, até a presente data,
sensível aos desafios enfrentados pela AEK na manutenção da equipe, o Avaí
Futebol Clube já realizou um total de R$ 1.068.165,94 em repasses à Associação
Esportiva Kindermann, ou seja, aproximadamente 25% a mais do que havia sido
autorizado em orçamento”, diz a nota.
O clube acrescenta ainda que segue buscando recursos
adicionais para que os compromissos assumidos sejam honrados o mais breve
possível.
A decisão final das atletas depende, portanto, da
regularização dos pagamentos até sexta-feira. Caso contrário, o Avaí Kindermann
pode encerrar a temporada de forma melancólica, sem disputar a final do
Campeonato Catarinense Feminino 2025 — competição na qual é o maior campeão da
história, com 15 títulos.