O impacto das tarifas de 50% sobre as exportações do Brasil
para os Estados Unidos já afeta as exportadoras de SC mesmo antes da entrada da
medida em vigor. Pesquisa realizada pela Federação das Indústrias de SC (Fiesc)
mostra que, entre as indústrias exportadoras que responderam o questionário,
69,23% já tiveram recuo no volume de pedidos dos importadores norte-americanos.

“A pesquisa mostra que as perspectivas do setor para os
próximos seis meses são de um cenário de redução de pedidos, demissões e recuo
significativo no faturamento, demandando uma ação rápida e assertiva do poder
público, de forma a preservar empregos e a nossa economia”, resume Mario Cezar
de Aguiar, presidente da Fiesc.
A queda na receita deve atingir 93,8% das exportadoras, e
51,2% delas preveem perdas de mais de 30% no faturamento. O reflexo nos
empregos também é claro: 72,1% das indústrias pesquisadas estimam demissões.
Impactos já sentidos
O decreto que detalhou a nova tarifa norte-americana foi publicado ontem e
vigora a partir da próxima quarta-feira, 6, mas as indústrias catarinenses já
vêm sentindo os impactos, em decorrência da insegurança gerada pelo anúncio,
realizado no dia 9 de junho. Além de pedidos em queda, 53,84% das empresas
foram obrigadas a suspender embarques. Os clientes norte-americanos pediram
renegociação de preços para 38,46% das indústrias e 17,7% delas já deram férias
coletivas aos trabalhadores. “O fator positivo é que 61,4% das indústrias já
estão prospectando novos mercados internacionais, de forma a reduzir sua
exposição aos Estados Unidos”, explica Pablo Bittencourt, economista-chefe da
Fiesc.
Próximos 6 meses
A pesquisa aponta que a manutenção das tarifas norte-americanas nos patamares
anunciados no dia 30 teria efeitos sobre a capacidade das indústrias
catarinenses de honrar seus compromissos com fornecedores e credores. As
pequenas empresas devem ser as mais afetadas no curto prazo.
Em relação ao recuo do faturamento, 51,2% das empresas que
responderam a pesquisa preveem queda superior a 30%. Já 20,9% das indústrias
estimam redução de até 10%, enquanto 21,7% das empresas projetam perdas entre
10 e 20%.
“Esses são dados relevantes para considerarmos na elaboração
de políticas públicas para minimizar o efeito do tarifaço. A perda de receita,
combinada com endividamento, têm reflexos diretos sobre os níveis de emprego”,
destaca Bittencourt.
O presidente da FIESC lembrou que a entidade se reuniu com o
vice-presidente e ministro do desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e executivos do
ministério para debater os impactos do tarifaço, além de ter iniciado
articulações com o governo do estado para propor medidas para mitigar os
efeitos do tarifaço.
Apenas 27,9% das exportadoras não preveem demissões como
consequência das tarifas. Das indústrias que estimam demissões, 29,5% projetam
cortes de mais de 30% dos empregados, enquanto 22,5% estimam demitir entre 10 e
20%. Já 21,7% das indústrias afirmam que a expectativa é demitir até 10% da
equipe nos próximos 6 meses se as tarifas continuarem em 50%.
Produtos isentos
Análise da Fiesc aponta que, de forma geral, os principais produtos da pauta
exportadora de Santa Catarina não estão na lista de
produtos isentos. A presidente da Câmara de Comércio Exterior da FIESC,
Maria Teresa Bustamante, explica, no entanto, que a situação dos exportadores
de SC deve ser avaliada caso a caso, considerando a longa lista de exceções.
“Os produtos de madeira e derivados, como móveis, que
lideram as exportações catarinenses para os Estados Unidos, estão sob
investigação pela seção 232. Até o fim da investigação, essas mercadorias
seguem sendo tarifadas com alíquotas anteriores ao anúncio do tarifaço”,
explica.
Já o segmento de veículos e autopeças, segundo na lista dos
principais produtos, tem taxa fixada em 25%, a mesma para todos os países do
mundo, explica Maitê Bustamante. Não haverá sobretaxa de 50% ao setor.
“A lista de produtos isentos é extensa e muito particular.
Um setor pode ter produtos dentro e fora da lista. Cabe à indústria avaliar com
cuidado o documento e identificar possíveis exclusões considerando a
classificação de cada um de seus produtos conforme a Comissão de Comércio
Internacional dos EUA”, explica.