A pior crise hídrica que o Brasil vive nos últimos 91 anos
agrava ainda mais o financeiro dos consumidores por conta do aumento na conta
de luz, a partir desta quarta-feira, 1°. Dessa forma, começa-se a levantar
a possibilidade de racionamento e um novo apagão em Santa
Catarina.
Além disso, o vice-presidente da República, Hamilton
Mourão (PRTB), não descartou a possibilidade de um possível racionamento.
“O que eu tenho acompanhado é que o governo tomou as medidas
necessárias, criou uma comissão para acompanhar e tomar as decisões a tempo e a
hora no sentido de impedir que ocorra isso aí que você [repórter] colocou, que
haja apagão. Agora, pode ser que tenha que ocorrer algum racionamento. O
próprio ministro [de Minas e Energia] disse isso”, explica Hamilton Mourão.
Como disse o vice-presidente, uma das decisões tomadas foi a criação
da bandeira de escassez hídrica. Dessa forma, a taxa extra passou para R$
14,20 para para cada 100 kilowatt-hora (KWh) consumidos até abril de 2022.
“A falta de chuva nas áreas de reservatórios das matrizes é
o principal fator para a crise elétrica. Por conta disso, a geração de energia
é menor e o governo acaba precisando utilizar outras fontes com o custo de
aquisição mais alto, sendo repassado para o consumidor”, explica o economista
Guilherme Alano.
Além do uso consciente, os pesquisadores da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) alertaram para a imediata necessidade de
reduzir o consumo de energia para evitar cenários ainda piores que o aumento na
conta de luz.
“Trata-se agora de adotar medidas de redução do consumo,
especialmente nas residências e prédios públicos, para tentar evitar o cenário
catastrófico de um apagão energético no Brasil em alguns meses”, aponta o grupo
de pesquisadores.
De acordo com a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc),
a produção de energia por meio térmico representa 22% da produção total no
Brasil.
Para o economista Guilherme Alano, os próximos meses serão
essenciais para entender a melhora da situação hídrica no Brasil e saber quais
os próximos passos serão adotados.
“Se, de fato, não voltar a chover, vem o aumento de preços e
o incentivo para o consumo consciente, como vem acontecendo. Em seguida, os
cortes esporádicos e o racionamento de energia. Em último caso, onde avalio que
seja bastante improvável, vem o apagão”, explica.
É preciso diversificar a geração de energia
Segundo o grupo de pesquisa da Sinergia da UFSC, uma
das maneiras de evitar um possível racionamento e apagão é o investimento em
energias renováveis e usinas híbridas, aquelas que usam mais de uma fonte
renovável de forma complementar, por exemplo, uma usina que gera energia solar
durante o dia e eólica à noite.
“A maior parte destas estratégias, infelizmente, só são
possíveis no longo prazo, pois a instalação de novas usinas ou até o
desenvolvimento tecnológico demora tempo e, portanto, no curto prazo, ainda
estaremos vulneráveis a essas flutuações climáticas e ao regime de chuvas”,
avaliam, conforme nota.
Enquanto a produção de energia hidráulica representa 65% no
Brasil, apenas 13% são renováveis, sendo 2% solar e 11% eólica. Mesmo com a
impossibilidade de adotar novas medidas em pouco tempo, os pesquisadores
apontam estratégias que poderiam ser adotadas para incentivar a produção de
energia eólica e solar.
“Modelos de negócio que facilitassem o acesso a essas
tecnologias, como por exemplo, cooperativas de geração solar, onde vários
usuários/consumidores se reúnem para ter ganhos de escala na produção de
energia solar enquanto os custos são diluídos”, sugerem os pesquisadores no
documento.
Geradores distribuídos também contribuem na capacidade
instalada do sistema elétrico nacional, o que poderia diminuir a possibilidade
de novas crises energéticas no futuro.
“Em caso de queda de energia devido ao rompimento de um cabo
de transmissão, geradores distribuídos podem operar de modo a fornecer energia
em substituição à geração principal”, avalia o professor Tiago Davi Curi
Busarello.
Melhorias na rede operacional
De acordo com o grupo de pesquisadores da UFSC, outro fator
apontado como solução possível para melhorar a eficiência operacional dos
sistemas de energia elétrica é a utilização de redes inteligentes, ou seja, são
sistemas de distribuição e de transmissão de energia elétrica que utilizam
recursos de tecnologia da informação e automação.
Dessa forma, são capazes de identificar e atuar para
melhoraria da eficiência operacional nos quesitos estabilidade, confiabilidade
e fornecimento ininterrupto de energia elétrica.
“A geração distribuída inteligente geralmente possui uma
fonte renovável de energia como fonte primária. A energia gerada é processada e
injetada no sistema elétrico no ponto de conexão do gerador distribuído”,
complementa o professor.
Até quando deve permanecer a estiagem?
De acordo com o meteorologista catarinense Piter Scheuer, o
período de estiagem já era esperado por conta do período do ano e devido a passagem
da La Niña, responsável pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico
equatorial.
“À medida que vamos passando pela neutralidade e passando
pelo La Niña, as chuvas podem regularizar, mas está previsto apenas para o ano
que vem. Portanto a estiagem prossegue em Santa Catarina”, complementa o meteorologista.
O fenômeno faz com que ocorra certa interferência de massas
de ar, tanto quentes quanto frias, provocando variação nas temperaturas. Isto
é, momentos de aquecimento e de temperaturas mais amenas. Dessa forma, é
esperado chuvas irregulares e, possivelmente abaixo da média em todo o Estado.
“Chuva vai ter, mas de uma maneira bastante mal distribuída.
Enquanto numa determinada região, por exemplo, ocorre uma pancada com trovoada
associada a temporal – típico da primavera – em uma área vizinha há pouca chuva
e só aumento de nuvens”, exemplifica Piter.
O que diz a Celesc
A Celesc relembrou a publicação do decreto do
governo federal que estabelece ações para a redução do consumo de energia
elétrica na administração pública federal e o programa para redução voluntária
da demanda por grandes consumidores, por exemplo, as indústrias.
A Celesc informou que segue a projeção do Governo Federal e
do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ou seja, que, no momento,
descarta essa chance de um novo apagão no estado.
Com informações: ND+