A casa onde Elenir Ribeiro, de 45 anos, morava com a filha de 23 anos em Caçador, passou por perícia na segunda-feira (20). A intenção do delegado Fabiano Locatelli é reunir mais dados para o inquérito, que "está praticamente pronto". A filha, o ex-namorado da jovem e uma prima da jovem devem ser indiciados pela morte da mulher, vítima de uma alta dose de remédios para emagrecer, adiantou o delegado ao G1 nesta terça (21).
A mãe da jovem sofria de esquizofrenia e necessitava de cuidados especiais, dos quais a filha era encarregada. Segundo o delegado, o ex-namorado, Leandro Negretti, de 24 anos, indicou um emagracedor vendido sem retenção de receita médica, que segundo ele não seria identificado em uma perícia.
Segundo a investigação, Valéria Ribeiro da Silva e a prima, Priscila de Fátima Ribeiro, de 25 anos, assistiram à agonia da mulher por três horas. "Só depois de uma hora, quando tiveram certeza da morte dela, simularam um pedido de socorro aos bombeiros", contou o delegado. Elenir morreu em março - na época, um atestado classificou a morte como natural.
Possível exumação
De acordo com o delegado, o objetivo da parecícia é ter noção da disposição dos móveis e fazer levantamento fotográfico, para tornar o inquérito mais completo.
Locatelli afirma que os três suspeitos devem ser indiciados. "Só estamos aguardando algumas respostas do IML [Instituto Médico Legal] e do IAF [Instituto de Análises Forenses]". Ele quer anexar os laudos ao inquérito e espera a resposta do IAF para saber se é viável uma exumação do corpo da vítima.
Outro resultado de perícia que a polícia aguarda é o feito nos celulares do ex-namorado e da prima. No telefone da filha, foram encontrados áudios em que ela conversa com o ex sobre os medicamentos que seriam usados para a morte da vítima (ouça trechos do áudio abaixo). Até sexta (24), o delegado quer concluir o inquérito.
Presos
Os três suspeitos estão presos em Caçador desde 14 de junho. Ao ser presa, a filha preferiu permanecer em silêncio. O ex-namorado alegou desconhecer o que a garota pretendia fazer com o remédio.
“Ele disse que soube só depois o que seria feito com o medicamento. No entanto, no inquérito ficou provado que ele sabia de tudo. A prima sabia de tudo desde o início, ela admitiu em depoimento, o que a torna cúmplice do crime”, disse o delegado.
O advogado de Leandro, Cesar Carneiro, afirmou que não teve acesso ao inquérito policial e que, por enquanto, não vai se manifestar sobre o caso. O G1 também tentou contato com a defesa da filha e sa sobrinha da vítima, mas não obteve êxito.
Caso de serial killer levantou suspeita
Segundo relatou o delegado Fabiano Locatelli, a polícia só levantou a suspeita após o desaparecimento de um irmão da vítima, na época da prisão um suposto serial killer na cidade - preso suspeito de matar e esquartejar ao menos três pessoas. Os policiais passaram a cogitar o envolvimento desse preso em vários desaparecimentos em Caçador.
Em depoimento sobre o desaparecimento do homem, um dos parentes da mulher de 45 anos declarou à polícia suspeitar que ela não tivesse morrido por causas naturais, mas que tivesse sido assassinada pela própria filha.
“Ainda não temos provas disso, mas já trabalhamos com a hipótese de que este homem possa ter sido assassinado para garantir a impunidade do crime”, declarou Locatelli.
Jovem foi a enterro
Segundo o delegado, a filha chegou a ir ao enterro da mãe. Mais de dez testemunhas prestaram depoimento à polícia, entre parentes e pessoas que tiveram algum tipo de contato com os envolvidos.
A jovem estava desempregada, assim como a prima. O ex-namorado era personal trainer. "As prisões surpreenderam muito. Esse rapaz era um personal trainer, muita gente é aluna dele", afirmou o delegado.
Confissão em áudio
No telefone da filha, foi encontrada uma gravação em que ela conversa com o ex sobre o medicamento que teria sido usado no crime, um remédio para perder peso que e vendido sem retenção de receita médica. Segundo a polícia, a gravação foi feita com o objetivo de chantagear o ex-namorado e reatar o relacionamento
"Se a gente não a matasse, não ficaria junto. Você acha que você ficaria comigo, com ela gritando? Fazendo você passar vergonha... Você não ficaria comigo", indagou a jovem na gravação. “Não”, respondeu o ex.
Em outro trecho, o ex-namorado fala sobre as chances de o crime ser descoberto. "Qualquer morte que der infarto não tem como comprovar a causa (...) Se tivessem feito perícia no dia da morte, os remédios não teriam aparecido”, disse o rapaz.