No futebol feminino, São José e Kindermann se enfrentaram nesta quarta pelo Campeonato Brasileiro, em Santa Catarina. Dentro de campo, vitória do time da casa por 1 a 0. Mas, fora das quatro linhas, a partida só deve acabar na Justiça. O time de São José dos Campos acusa a torcida adversária de injúria racial. O coordenador da equipe procurou a polícia no estádio Edir Valim, em Fraiburgo, após ouvir gritos de "macaca" quando a camisa 9 Michele Carioca pegava na bola. O presidente do Kindermann nega o caso. E diz que se trata de rivalidade.
- A torcida chamou a nossa jogadora de macaca, eu avisei polícia e diretoria e ninguém fez nada. Vou procurar nossa assessoria jurídica. Isso não pode ficar assim. O caso Aranha, por exemplo, pode ajudar a acabar com o racismo nos estádios. Mas no futebol masculino você tem milhares de câmeras que provam que a torcedora chamou o atleta de macaco. No futebol feminino, não. Só que nem por isso eu vou desistir de denunciar essa injúria - acusou Gustavo Assad, coordenador de futebol do São José, equipe do interior de São Paulo.
- São José não soube perder. No passado, nosso clube protocolou na CBF uma acusação ao então técnico do São José e agora eles querem nos prejudicar. Na época, mostramos que faltava ética ao Márcio Oliveira (ex-técnico do São José), que dirigia o clube e a seleção feminina ao mesmo tempo. Virou rivalidade. E afirmo: o Kindermann é totalmente contra o racismo, não aceitamos, e isso não ocorreu - respondeu o presidente Richard Kindermann.
O árbitro da partida, Evandro Tiago Bender, de Santa Catarina, não relatou a suposta injúria na súmula após o duelo.
Através das redes sociais, jogadoras do São José protestaram contra a torcida adversária.
- Já passamos por isso outras vezes aqui (em Santa Catarina) - criticou a meio-campo Priscilinha, da Águia do Vale.
A zagueira da equipe joseense, Gislaine, também se manifestou.
- Preconceito lamentável! Já é difícil ver relatos de preconceito pela TV, mais revoltante ainda com uma colega de trabalho - escreveu a jogadora.
Em entrevista, Michele Carioca conta que não ouviu os gritos de "macaca" da arquibancada.
- Eu não ouvi nenhum grito. Mas o pessoal da comissão me passou que me chamaram de "macaca". Então acredito neles, claro, e lamento que isso ainda aconteça nos dias de hoje. Não é a primeira vez que somos insultadas contra eles em Santa Catarina, aconteceu isso com outras jogadoras nossas - contou Carioca.
“No futebol feminino não tem as câmeras para provar que o torcedor chamou a jogadora de macaca”.
Gustavo Assad, coordenador do São José
Segundo o coordenador do São José, a volante Formiga, que está com a seleção brasileira na Copa América, também já sofreu injúria racial atuando contra o Kindermann.
- Já aconteceu com a Formiga e com outras jogadoras nossas. O curioso é que o time deles você só vê jogadoras loiras, branquinhas - comentou o coordenador.
Na opinião do presidente do Kindermann, a diretoria do São José estaria "pegando carona" na repercussão do caso do Grêmio, onde o clube foi excluído da Copa do Brasil.
“O assunto racismo é a bola da vez (...) O São José quer aparecer”.
Richard Kindermann, presidente do clube
- O assunto racismo é a bola da vez e aí você encontra uma desculpa para a derrota. Você acha mesmo que depois de tudo o que aconteceu com a torcida do Grêmio alguém ia manter essa postura? É lamentável nossa torcida sofrer essa acusação. Não existe. O São José quer aparecer às nossas custas. Nosso clube é um dos poucos no Brasil que investe no futebol feminino e nós pedimos respeito - disse o dirigente de Santa Catarina.