Há mais de três décadas, as irmãs Ilva Cristino de Melo, 44 anos, e Albina Cristino Melo, 42 anos, vem recebendo amor, carinho e atenção, de uma família que recebeu apenas a função de cuidá-las como sendo um emprego. Há exatos 36 anos, as irmãs encontradas em um barraco na Linha Adolfo Konder, em situação deplorável vem superando a expectativa dos médicos que estimaram vida no máximo aos 20 anos.
A curadora legal das irmãs, Lucimeri Vieira, lembrou de como tudo começou, desde quando elas foram encontradas por Ornilda Busatto e Gladis Fontana, ambas membras das Damas de Caridade. Lucimeri contou que a mãe havia ido embora com os outros filhos e deixou as duas que já tinham problemas mentais. O pai, por sua vez era alcoólatra e trabalhava no mato e demorava dias para voltar para casa.
“A deficiência delas não impediria que caminhassem ou até mesmo falassem, mas como faltou estímulo quando ainda crianças, hoje são totalmente dependentes de nós”, afirmou Lucimeri.
Lucimeri revelou que as irmãs, depois de serem encontradas passaram um tempo internadas e como não tinham nenhum documento, a idade aproximada foi revelada através da arcada dentária.
Segundo Lucimeri, as Damas de Caridade fizeram uma parceria com a Prefeitura de Caçador e utilizaram o terreno onde hoje é a Casa Lar para que uma família pudesse cuidar das irmãs. Quem assumiu este compromisso, sendo até então um trabalho foi Lídia Gongolewiski, mãe de Lucimeri.
“Minha mãe cuidou delas até a aposentadoria e depois prestei concurso público para auxiliar de serviços gerais para continuar com as meninas. Sou funcionária pública da Secretaria de Assistência Social cedida para as Damas de Caridade. Assumi o compromisso da minha mãe há 11 anos e hoje sou curadora legal delas”, explicou Lucimeri.
No dia 28 de dezembro de 1979, Lídia entrou na casa com as filhas para cuidar da Albina e Ilva. Com o tempo elas foram evoluindo, porém não conseguiam comer com talheres. “Nós precisamos nos adaptar com a realidade delas, que também se adaptaram a nós. Com isso formamos uma grande família estruturada”, frisou Lucimeri.
“Tivemos que enfrentar muitas dificuldades a vida toda para poder cuidar das meninas, porém em momento algum pensamos em desistir. Não posso ter vida sem a Ilva e a Albina. Posso dizer que eu aprendi mais com elas do que ensinei a elas, e as tenho como minhas filhas”, comentou Lucimeri.
De acordo com Lucimeri, na rua existe muito preconceito com as irmãs, porém em casa a realidade é diferente, pois são tratadas como membras da família onde elas recebem carinho e amor de todos. Para Lucimeri, o maior medo é de que alguém tente fazer alguma coisa para tirar elas, pois elas recebem um tratamento todo especial.
Mas todos os problemas e complicações são esquecidos quando se trata em reunião familiar, onde nem mesmo as deficiências das irmãs são empecilhos para que possam participar e confraternizar com todos.