Definitivamente não podem ser minimizados os desafios do processo de recuperação da economia e da confiança de consumidores e empresários de todos os setores. Os estragos foram de grande monta. As pedras estão colocadas no tabuleiro. Jogando o jogo que é possível ser jogado num quadro onde o grau de incerteza é ainda muito alto.
O cataclisma que se abateu sobre o país demandará tempo, muita ação, foco, negociação e, acima de tudo, bom senso e perseverança para ser revertido. É uma longa e complexa jornada, mas tudo indica que podemos estar na direção correta, se levarmos em conta o que foi defendido no programa "Uma ponte para o futuro", primeira proposta articulada pelo atual presidente em exercício.
Os desafios envolvem também a pressão pela sonhada e desejada reversão, mas que não pode ser operada de forma plena pela simples mudança de liderança, pois muito existe para ser discutido e negociado e onde os agentes continuam sendo exatamente os mesmos que antes estavam nessa mesma arena. Muitos apenas trocaram a camisa.
E vamos lembrar que não se ensina truque novo para cachorro velho. Eis a maior fonte de preocupação. Os agentes responsáveis pela ansiada e cobrada transformação são os mesmos que, de alguma forma, contribuíram para que estejamos vivendo o que temos vivido.
É verdade que existem alguns aspectos diferentes e relevantes nesse cenário e, claramente, o mais importante deles é o recém adquirido protagonismo da Justiça, investigando, processando e condenando quem estava anteriormente com o sentimento pleno de impunidade.
Mas o que poderia decisivamente contribuir para uma mudança radical de perspectiva seria a mobilização do setor empresarial fazendo-se mais presente na discussão dos grandes temas nacionais e trazendo uma visão muito mais comprometida com o longo prazo e a competitividade do País, associados com maior equidade no plano social.
Esse aspecto pode se tornar decisivo na construção do futuro do Brasil, mas eis o alerta: não é isso que se percebeu na composição do time que terá a responsabilidade de trabalhar nessa direção.
Sobram políticos tradicionais e falta mente, coração, discurso e prática com visão mais estratégica e empresarial. Temos razões sérias para temer com esse time do presidente Temer. Esperamos sinceramente que seja apenas uma contingência de curto prazo.
Até lá, é preciso muita calma para termos a certeza que o conjunto de medidas está alinhado com o que o Brasil precisa. Mas dá para acreditar que o passado recente possa ser definitivamente enterrado. E isso já será um ótimo começo de jornada.
Fonte: Portal Gouvêa de Souza