Durante anos, a obsessão pelo crescimento do PIB moveu a política e a economia da China. Promoções do governo eram decididas com base no índice e prevalecia o temor de que uma expansão anual menor do que 8% levaria ao desemprego em massa.
Agora que a segunda maior economia está em desaceleração, o governo central tenta se afastar do "pibismo", como a obsessão foi apelidada por analistas, e corrigir os males gerados pelo crescimento desenfreado, entre eles explosão do crédito, excesso de capacidade e alta poluição.
A ordem, repetida à exaustão pelos líderes do Partido Comunista, é focar a qualidade, não a quantidade.
No fim de janeiro, Xangai foi a primeira megacidade chinesa a anunciar que não terá meta de crescimento do PIB para 2015, fortalecendo a tendência. Segundo o prefeito da cidade, Yang Xiong, a meta passa a ser "o aumento da qualidade e da eficiência". Ele prometeu que a cidade manterá um "crescimento estável", mas não disse quanto isso significa em números.
Fujian, província costeira no sul do país, foi uma das que abriram mão da meta do PIB. O governo local diz que adotará outras variáveis para medir desempenho, como desenvolvimento agrícola e proteção ambiental.
Apesar da campanha do governo pela diversificação dos métodos, a expansão do PIB num patamar razoável continua sendo central para manter a estabilidade do país mais populoso do mundo.
Justin Lin, ex-vice-presidente do Banco Mundial e um dos economistas mais respeitados do país, lembra que a China cresceu em média 9,8% ao ano nos 35 anos desde a abertura, "uma ascensão explosiva e sem precedentes".
Passado o milagre econômico, ele sustenta que é preciso manter a meta de crescimento acima de 7%.
"Essa taxa de crescimento pode ajudar a estabilizar o emprego, reduzir o risco financeiro e atingir a meta de dobrar a renda até 2020."
Em 2014 a China teve o menor crescimento econômico em 24 anos, 7,4%. Mas as estatísticas do ano passado também mostram os avanços da economia chinesa e da reforma do governo, que quer mais ênfase no consumo doméstico e menos investimentos. Um sinal disso é o aumento do setor de serviços, mais ligado ao consumo, cuja fatia da economia chinesa atingiu 48,2% em 2014.
Outro é o aumento da renda média, de 8%, acima do crescimento do PIB.
A alta no poder aquisitivo e a ascensão da chamada nova classe média é algo visível, e o turismo é só um dos exemplos. Segundo estatística divulgada pelo jornal estatal "China Daily", o número de passagens para o exterior compradas para o feriado do Ano Novo chinês, que começou nesta quinta, cresceu 350% em relação a 2014.
"É muito mais importante saber se Pequim está tendo progresso em importantes reformas, como a liberalização financeira, a proteção ambiental e a reforma fiscal. Esses esforços é que determinarão se a economia se manterá saudável nos próximos anos."
Fonte: Folha de S.Paulo