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Amor & Sexo

Não existe idade para amar


“Boa noite Lidiane! Menina, você é 10! Tiro o meu chapéu para você. Menina descolada, inteligente, informada, alto-astral, madura e muito competente em tudo que faz. Acompanho sua carreira desde sempre. Hoje sou uma vovó antenada que aos poucos está se adaptando as novas tecnologias. Minha neta me ensinou a lidar com o computador e a navegar na internet. Menina, eu estava sentindo falta de suas histórias no jornal. Daí sábado passado li na revista IDEIA que você passou a postar os romances apenas no site caçador.net, por falta de espaço no jornal. Logo tratei de entrar no site e conferir suas colunas. Na mesma hora resolvi te escrever.

Lidi querida, conheço toda a sua família. Sou amiga da sua mãe. Inclusive, nos encontramos sempre nos grandes bailes da melhor idade. Minha história se assemelha um pouco com a da sua mãe. No meu caso, perdi meu primeiro marido muito jovem. Ele foi vítima de um acidente de trânsito. O motorista do outro carro estava embriagado quando bateu no seu veículo. Sofri muito, mas, consegui superar e retomar a minha vida. Como já falei, casei muito jovem, meu marido foi meu primeiro homem. Somente depois de sua morte me dei a oportunidade de conhecer outros homens. Na verdade fiquei cerca de três anos só em casa lamentando a dor por ter perdido meu companheiro. Um certo dia conheci meu segundo marido no caixa do supermercado. Nos encontrávamos quase que diariamente no mercado. Ele passou a puxar papo comigo e a partir dessas conversar surgiu o primeiro convite para jantar. Aceitei sem pensar muito. Afinal, eu estava na mesma sintonia que aquele galanteador homem de meio idade. Aquele cabelo grisalho me encantava!

Após o primeiro jantar, vieram outros encontros até o dia em que resolvemos assumir aquela relação. Casamos e vivemos por longos 25 anos uma conturbada relação. Meu agora ex-marido se transformou depois do casamento. Lembro perfeitamente que após a chegada do meu primeiro filho, ele começou a levar uma vida desregrada. Como passava dias fora de casa por causa das viagens de trabalho, acostumou a levar uma vida de solteiro. Bar, amigos, churrasquinhos, bebedeiras e... mulheres. Não uma, mais várias. Minhas amigas me alertavam, mas eu não queria acreditar, eu não queria ver, por mais que estive claro, como a luz do dia.

Lidi, eu queria ter uma família, eu prezava pela família. Eu queria viver feliz com meu marido, porque eu o amava. E ainda, tínhamos uma bebezinha tão frágil que precisava dos pais unidos. Eu não trabalhava, apenas cuidava da casa, do bebê e das coisas do meu marido.Não estudei muito, apenas até a quarta série. Vivi minha infância e adolescência na roça, só sai da casa dos meus pais para casar. Era uma excelente dona de casa, boa mãe e boa esposa. Mas, nada disso fez com que meu marido me respeitasse. Em casa queria atenção redobrada, jamais admitia que eu fosse trabalhar fora. Morria de ciúmes de mim e queria que eu o `servisse´sempre que essa fosse sua vontade. Na verdade ele queria uma santa dentro de casa e `mulheres fáceis´, para realizar suas fantasias e mostrar seu lado `macho´, `pegador´, fora de casa. Imagina! Como ele iria conviver com seus amigos, sem contar `vantagens´.

Lidi, vivia numa angústia permanente. Fingia o tempo todo ser e estar feliz. Mas lá no fundo só eu sabia a dor que corroia o meu peito. Acho que nunca fui feliz com ele. Tive mais três filhos, quando eu via estava grávida. Não tinha muita informação para evitar os filhos. Não que eu me arrependa de ter tido eles, não é isso! Amo meus filhos, são meus bens mais preciosos. Mas, queria ter sido mais forte, para não permitir que eles sofressem tanto com os desmandos do pai conservador.

Conservador somente do lado da família, porque do outro lado, ele era o pior exemplo a ser seguido. Até hoje meus filhos guardam mágoa, mas mesmo assim não deixaram de estender a mão para o pai agora que ele não tem mais dinheiro e a juventude do passado. Sinto que meu marido se arrependeu de tudo que fez para todos nós. Hoje é um outro homem. Mora sozinho. Não bebe mais, não fuma, fica só por casa cuidando dos afazeres domésticos e do quintal, onde tem uma pequena horta, assiste televisão e, no máximo, sai fazer uma caminhada no final da tarde. Têm uns 10 anos que nos separamos. Eu, depois da separação, dei uma grande virada na minha vida. Tive que começar do zero. A minha sorte é que meus filhos já estavam criados e encaminhados. Lembro como se fosse hoje, arregacei as mangas e fui atrás de um trabalho para poder me manter, afinal, nunca contribui com o governo para poder me aposentar. Nem sabia que precisava. Só fui me dar conta quando me vi sem nenhuma renda. Meu marido estava falido. Não podia esperar por uma pensão. Suas economias foram para o ralo depois de tantos gastos com amigos, bebidas, jogos e mulheres.

É Lidiane, depois que o dinheiro se foi os amigos foram juntos. Minhas amigas me ajudaram muito nessa fase, uma delas conseguiu um trabalho para que eu cuidasse de uma idosa. Como passei a morar com ela, acabei alugando a minha casa e pude fazer uma poupança. Foi depois desse emprego que tudo mudou. Comecei a tomar conta do meu próprio dinheiro. Os anos foram passando e eu consegui dar à volta por cima. Com o passar dos anos peguei um advogado que conseguiu me aposentar. Agora tenho mais esse ganho. Parei de trabalhar fora, agora faço alguns trabalhos em casa que geram uma renda extra. Faço meu horário e hoje me dou ao luxo de fazer o que eu quiser. Vou nos bailes da melhor idade uma a duas vezes por semana, jogo bingo, vou na casa das vizinhas tomar chimarrão e jogar conversa fora e, às vezes, até namoro um pouco, afinal de contas, ainda estou viva. Não é Lidiane? É verdade, sou bastante paquerada, mas, não caio na conversa de qualquer um. Tem muito picareta querendo se `encostar´em mulheres da minha idade. Conheço vários casos. Mas comigo eles não tiram onda, porque eles sabem que sou `macaca velha´, literalmente. Mas Lidiane, apesar de todas essas não tão boas, eu ainda acredito no amor. Conheci um homem maravilhoso no último Baile Regional da Melhor Idade. Ele é cinco anos mais jovem que eu, é viúvo, aposentado e tem um padrão de vida igual ao meu. Acho que é um ótimo partido e, melhor, parece gostar de mim de verdade. Estamos nos conhecendo. Tenho passado algumas noites em sua casa. Ele é um excelente companheiro, amigo e ainda tem `pegada´. Acredita? Isso mesmo. Estamos redescobrindo o amor. Acho que encontrei um parceiro para passar os últimos anos de minha vida. Por isso eu te digo, querida Lidiane: não existe idade para amar. Um abraço. Fica com Deus! Desejo que seja muito feliz com seu amor.” Joana – bairro São Cristóvão

Boa noite querida Joana. Lembro de você. Amiga, quantos assuntos interessantes você levantou. Sua história da pano para manga. Então não vamos perder tempo. Vamos começar do começo. (srsrs) Primeiramente, muito obrigada pelo e-mail, muito obrigada por acompanhar meu trabalho, muito obrigada pelas palavras carinhosas e muito obrigada pelos votos de felicidade. Meu romance vai muito bem, obrigada!

Joana, fico muito feliz em saber que está se atualizando, que está acompanhando as mudanças. É muito bom quando as pessoas se dão à oportunidade de mudar. E pessoas na sua idade, na grande maioria das vezes, são resistentes às mudanças, principalmente os homens. Infelizmente, os homens da melhor idade são menos sociáveis e ativos que as mulheres. As mulheres da melhor idade se dão a oportunidade de viver intensamente a velhice. Já é da natureza da mulher falar pelos cotovelos. Não é mesmo, amiga? Os estudos dizem que as mulheres chegam a falar quatro mil palavras por dia, enquanto os homens apenas duas mil. Eu posso confirmar essa afirmação, porque aqui em casa se estou com a minha mãe ou com minhas irmãs conversamos o tempo todo. Moramos com meu pai e posso passar o dia inteirinho com ele, a semana inteira, se nós dois chegamos a trocar 20 palavras no dia, é muito. E não pense que temos algum atrito. Apenas não temos assunto para conversar. Nossos diálogos se resumem a: Bom dia! Boa noite. Vamos almoçar. Quer alguma coisa pai? Sim. Não. E por aí vai. O homem, principalmente, os da geração do meu pai não se permitem viver, sorrir, brincar, rir á toa, jogar conversa fora. Eles levam a vida muito a sério. Na grande maioria das vezes com a cara fechada, sisudos. Para ele nada pode, digo, nada pode agora, porque no passado, quando jovens, curtiram a vida até demais e as mulheres que agüentassem aquele vida de farra. E não só quando jovenzinhos, quando ainda `potentes´ se achavam os garanhões conquistadores. Mas, quando o bicho pega ou, melhor, não pega mais, o recurso é se anular. E é por isso que o homem parece desistir da vida. Levam uma vida tão pacata, que dá até dó. Parecem ser dignos de pena. Já elas, as mulheres são totalmente ativas. Elas saem, conversam, dançar, caminham, se exercitam, vivem mesmo. Vejo pela minha mãe, ela é alegre, de bem com vida, se vira, tem o dinheiro dela, dinheiro esse que conquistou sozinha depois que se separou do meu pai. Depois da separação minha mãe se mostrou uma exímia administradora e economista. Gente, minha mãe é uma vencedora! Ela teve que se virar como você se virou Joana, quando resolveu se separar do meu pai. Por isso tiro o chapéu para vocês, mulheres guerreiras.

Mas meninas da melhor idade, agora quero abrir um parêntese é falar das novas tecnologias. Conheço senhorinhas se iludindo com conquistadores baratos das redes sociais. Sei de casos de senhoras se despindo em frente à câmera para malandros da internet. Muito cuidado! Fica aqui o alerta para que tenham precaução na hora de se expor nesse mundo virtual. É preciso ter limite no que se fala, se mostra, se escreve. E isso não vale só para as senhorinhas, mas para todos os que usam desses recursos virtuais.

Joana, sua história daria um livro com vários enredos. Desde jovem teve que aprender a lidar com as perdas da vida. E a morte é a única perda que não tem volta. E, por mais que sabemos que a morte, um dia vai chegar, nunca estamos preparados para encará-la. Principalmente para uma morte inesperada e decorrente de uma imprudência. Eu tenho muitos traumas por causa da bebida alcoólica. Minha vida toda convive com esse vício ao meu redor. Por isso fala com todas as letras: Odeio bebida em demasia. Não suporto ver as pessoas bebendo sem limite, sem controle. Sinto pânico quando me deparo com gente embriagada. Já vi muitas brigas feias por causa de bebida. Bebida, ao contrário, do que muita gente que bebe diz, não traz alegria, nem felicidade para ninguém. Ela só mascara frustrações e amarguras. Sei que se conselho fosse bom a gente vendia, não dava, mas, mesmo assim, eu sempre que puder falar sobre esse assunto vou dizer, vou pedir: Não beba sem medida. Controle-se. Se beber, não diria! Se não for por você, pelas pessoas que ama e também pelas pessoas que não conhece, porque num pequeno descuido, várias vidas podem ser interrompidas, por imprudência de motoristas embriagados, como vemos nos noticiários diariamente. Está dado o recado.

E Joana, como falei na semana passada, esse é outro assunto que gera muito burburinho. Eu sou da opinião de que devemos aproveitar cada fase da vida. Quando for a época de beijar, vamos beijar na boca. Quando chegar o momento de transar, vamos transar. Quando acharmos que está na fase de namorar, ter uma relacionamento sério, vamos sossegar o facho e vamos respeitar o parceiro. E por aí vai. Tudo há seu tempo. E mais uma Joana, eu defendo que a mulher tem que conhecer outros homens, sim. Claro que com bom senso, nada de sair por aí transando com todo homem que aparecer pela frente, mas com aqueles que achar que merecem te tocar. Certo?

E mais, foi o tempo em que a mulher era submissa ao marido. Foi o tempo uma pinóia! Em pleno ano 2013 conheço muitas mulheres totalmente dependentes e submissas a seus parceiros, infelizmente. Mas meninas, ainda está em tempo de mudar. Defenda seus interesses, tenha opinião própria, defenda suas vontades. Se não sabe, aprenda a dizer não. E amiga, não aceite pouco. Se seu parceiro não está te fazendo feliz, se teu parceiro te trata mal, é grosseiro, bruto com você, se não te respeita, dê um basta. Acredite, você não precisa dele para viver. Se não tem forças, busque apoio, pode acreditar, tem sempre alguém para te estender a mão. Lá na frente verá que é capaz, que é a dona da sua própria vida. Entendeu?

E Joana, quando diz que tem muito homem malandro querendo se `encostar´ em mulheres aposentadas, tem toda a razão. Conheço muitos casos. Infelizmente, por mais independentes e ativas que as mulheres possam ser, elas têm uma necessidade louca de ter alguém, de encontrar um companheiro. O que acaba fazendo com que elas caiam na lábia de golpistas. Por isso minhas meninas da melhor idade, fiquem espertas! Desconfiem quando homens muito mais jovens que vocês começam a freqüentar os bailinhos da melhor idade. Na grande maioria das vezes são homens cheios de saúde, mas, com pouca vontade de trabalhar. Eles saem em busca de mulheres carentes, que estão atrás de um pouco de amor, carinho e sexo. Sexo! Por que não? Mas meninas, se estão sentindo tesão, comprem um bullet (estimulante clitorial), é muito melhor do que sair com qualquer um. Invistam desse aparelho. É um excelente amigo íntimo. E como sempre digo: quem não tem cão, caça com gato. É melhor um `anão´ na mão, do que dois voando. (srsrs)

Joana, Joana. Tá apaixonada! (srsrs) Que legal amiga! Fico bem feliz por vocês dois. É isso mesmo. Quando encontramos uma pessoa decente temos que aproveitar. Homem para se ter um relacionamento sério está dificílimo de encontrar. Bom partido então, está muito mais difícil. Por isso amiga, se esse companheiro é tudo isso que você descreve, agarra ele. Se você não pegar, outra pega. Achar um companheiro hoje em dia está mais difícil do que encontrar uma agulha no palheiro. Então Joana, não deixa o seu escapar e amiga, seja feliz, porque a felicidade é o que mais importa nessa vida. Pense nisso!

Com carinho,
Lidiane Cattani Rabello - jornalista


Lidiane Cattani

Depois de conversas e conselhos sobre relacionamentos amorosos à amigas, Lidiane passou a publicar essas histórias e opiniões. Os artigos deram tão certo que já são três anos desse trabalho. A participação do leitor e as pautas sobre o assunto são muitas, o que garante boas histórias. A popularidade da coluna se justifica pelo fato dos leitores se identificarem com as situações e pela forma descontraída como a autora conduz as respostas. A maioria dos artigos são apimentados, o que aguça a curiosidade do leitor.

cattanirabello@hotmail.com